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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

José Rodrigues dos Santos em O Anjo Branco

   
   Foi assim na Expo 40, realizada em Lisboa:

   Desembocaram por fim no grande Pavilhão de Angola e Moçambique, protegido por dois hipopótamos que ladeavam a escadaria. Ao fundo viam-se umas palhotas e uma multidão curiosa formigava em torno delas.
   Aproximaram-se do local e logo o capitão exclamou:
   "Estão a ver?Estão a ver' Eu não dizia?"
   Amália e Joana abriram a boca de espanto quando espreitaram entre os ombros e as cabeças das pessoas  que se acotovelavam em frente, e o mesmo aconteceu com a criada e as crianças.
   "Credo!", exclama Joana, horrorizada. "Ai Jesus!"
   "Ora esta!", concordou a irmã. "Realmente, se eu não visse não acreditava!"
   António, o mais velho dos filhos, lançou ao capitão um olhar receoso.
   "O pai, eles comem a gente?"
   "Não, que disparate!"
   "Comem comem!" insistiu Lourdes. "Comem que eu sei!"
   "Não comem nada."
   E ali ficaram todos, embasbacados, num misto de repulsa e fascínio, a a contemplar o espetáculo que se desenrolava diante deles, a mirar aquela extraordinária atração: Um homem de tronco nu e tanga e pele escura como carvão, os cabelos encaracolados e o olhar enfastiado, sentado diante da palhota como se estivesse encarcerado numa jaula.

Excerto da pagina 54

Mais sugestões e citações sobre O Anjo Branco:
http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/search/label/Jos%C3%A9%20Rodrigues%20dos%20Santos

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